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Lifestyle

23 de Abril de 2017

Dois dedos de prosa com a empresária Mana Holanda

Às vésperas do 37º Festival da Moda de Fortaleza, dona Mana recebe People O POVO para tarde de papo sobre fé e empreendedorismo na moda

Foto: Mateus DantasFoto: Mateus Dantas

Por Jully Lourenço

jullylourenco@opovo.com.br

 

A rua Holanda, na Maraponga, leva ao coração gigante da clássica e visionária Mana Holanda. Lá está o Maraponga Mart Moda, razão das mais de quatro décadas de fé e entrega à moda cearense de Mana e do esposo, Manoel Holanda.

 

Com seu sorriso permanente no rosto, ela estava à nossa espera onde acompanha tudo o que acontece no maior shopping atacadista da cidade. Era tarde de 18 de abril. Mais um dia de trabalho da senhora incansável pela moda, às vésperas do 37º Festival da Moda de Fortaleza, evento que ela faz questão de levar adiante sempre com paixão e alegria.

 

Mana acredita na moda nascida aqui, no Ceará, e igualmente em sua capacidade de transformar a vida das pessoas que passam por essa cadeia produtiva. Tem a ver com a alma e o lema do empreendimento que ela e Manoel ergueram.

 

Para o nosso encontro na “sala do Manoel”, em meio a fotos-memórias que contam a história do MMModa, escolheu um dos seus tubinhos preto e branco. Como arremate da produção, maxi pérolas. A simpatia de Mana foi e é a pérola mais preciosa.

 

Foto: Mateus DantasFoto: Mateus Dantas

Antes de iniciarmos o papo, dois goles de água sabor de frutas cítricas. A preferência é do casal Holanda que, por sinal, injeta o mesmo frescor ao tradicional e sempre renovado negócio de moda local.

 

Como é dar vida ao FMF, um dos eventos pioneiros de moda lançados no MMModa?

É tão prazeroso fazer esse festival da moda porque não só o Maraponga é beneficiado como toda a cadeia produtiva do Ceará. Quando acontece esse festival da moda, há 37 anos, sem interromper nenhum ano, com todas as dificuldades que já se passou, de planos cruzados, descruzados..., os taxistas faturam mais, os cabeleireiros, os restaurantes, os hotéis, mas, principalmente, o pessoal da confecção. Então costumo dizer que quando tem o festival da moda chove em todo o Ceará. A Monsenhor Tabosa vende, o Montese vende, Barra do Ceará, todo esse povo que faz confecção. Há quem não dê valor à mão-de-obra cearense, mas ela é maravilhosa, perfeita, bem acabada, o povo tem bom gosto, ideia, e é por isso também que essa feira fez sempre sucesso.
É algo que a gente faz com tanto carinho, com tanto gosto, porque todas as pessoas movimentam-se e as boas pessoas têm resultado.

 

Desses anos de evento de moda, uma história de bastidor que marcou e ainda não foi revelada?

Ah, minha filha, já aconteceu tanta coisa nesse Maraponga. (Risos). Uma vez, nós trouxemos aquela moça Luiza Brunet. Ela era jovem. Tinha 18 anos. Ela veio pela Dijon e era muito bonita. E um primo meu soube pelos jornais que ela viria. Ele me disse que se chegasse pelo menos perto da moça, ele morreria feliz. “Mas, rapaz, você morre com tão pouco”. (Risos). Como fiquei muito amiga dela, da Luiza, perguntei se ela podia fazer uma brincadeira. Aí liguei para o meu primo para ele vir no Maraponga. Quando ele chegou na Dijon comigo, a Luiza estava com uma blusa branca só dado o nó, de barriga de fora e calça saint tropez que se usava na época. Ela olhou para ele e disse: “Vai ou não vai dormir comigo hoje?”. Ele desmaiou! Foi uma agonia! (Risos).


Foto: Mateus DantasFoto: Mateus Dantas

 

Foto: Mateus DantasFoto: Mateus Dantas

 

Foto: Mateus DantasFoto: Mateus Dantas

O convite para o FMF este ano pergunta “o que te inspira”. O que inspira a senhora?

É você ter muita fé e muita coragem e fazer as coisas contecerem. Sempre fui assim. Sempre imaginei que vai dar tudo certo e acaba dando. (Risos). Às vezes, o Manoel diz assim: “minha filha, é por que não chegou ao fim, mas no final vai dar certo”. E dá mesmo! Se você ficar de braços cruzados, nada vai fazer.

 

Por sinal, “moda muda sua vida” é lema do Maraponga...

E tenho uma história muito interessante de uma mocinha que mora em Pacoti. Um dia fui fazer uma escova de cabelo lá. Era um salão tão humilde que ela não tinha nem uma bacia para lavar a minha cabeça. Disse a ela: “Daniele, seu nome é tão lindo, o nome da minha filha, porque você não é uma revendedora? Vá ao Maraponga que vou lhe ajudar e você vai ser uma revendedora de moda”. Ela veio na semana seguinte e sai com ela pelas lojas. “Pode entregar mercadoria a ela, se ela não pagar eu pago”, assumi, na época. Você acredita que essa moça tem hoje três lojas (Pacoti, Guaramiranga e Baturité)? O Maraponga tem dessas coisas.

 

De onde vem essa força empreendedora e fé que deposita na moda?

Na verdade, sempre fui de ter fé em tudo. Se você imaginar que saindo daqui você vai cair da escada, você acaba caindo. Então nunca pensei nisso, pelo contrário. Um pensamento positivo foi o que a gente sempre teve aqui no Maraponga, e passo essa lição para os meus filhos porque, se você tem fé, vai conseguir fazer qualquer coisa que desejar.

 

A senhora tem essa consciência da fé creditada na moda local e como isso vem, há anos, impulsionando a indústria de moda?

Muita. A gente tem muita fé, minha filha. O cearense é muito corajoso. É muito criativo. A gente é assim de uma raça nordestina de coragem para além Paraíba, como se diz. A gente enfrenta qualquer negócio. A gente vai e mostra que a agente veio para acontecer.
 

Foto: Mateus DantasFoto: Mateus Dantas

O see now buy now é uma das pautas hoje da moda. Mas há tempos que o Maraponga tem essa visão...

É verdade. Isso a gente já vem fazendo há muito tempo. Porque é o mais prático. Com os eventos de moda, se está na passarela, já pode ser encontrado nas lojas, que também reabastecem as revendedoras com coleções novas toda semana. Às vezes, as revendedoras, que são de todo lugar do Brasil, nem veem aqui. As vendedoras mandam as fotos da coleção por WhatsApp e ficam só despachando pelos Correios. É comodidade.

 

O cenário da moda local está bom?

Não vou dizer que estamos aqui morrendo de vender. Todo mundo diminuiu em tudo. Não foi só em confecção. Tudo que eu ia vendo no supermercado, por exemplo, ia colocando no carrinho. Aquilo vencia, se estragava... Ninguém faz mais isso. Com a moda tem sido igual. Você compra aquela quantidade que você vai usar. Os consumidores estão mais conscientes. Então digo que a crise vem para educar as pessoas.

 

Dos anos de entrega à moda, qual seu maior ensinamento?

Tanta coisa a moda ensina a gente. A moda é uma coisa que mexe com a cabeça de qualquer pessoa. Ela movimenta a pessoa, é uma coisa prazerosa. Adoro trabalhar aqui com moda, adoro administrar o shopping, gosto demais dos meus inquilinos, são todos amigos nossos.
 

Foto: Mateus DantasFoto: Mateus Dantas

Naturalmente os modelos de negócios se reinventam. O que o Maraponga Mart Moda ainda tem de jeitinho seu e do Manoel Holanda?

Você acredita que eu não viajo nessa época, de eventos, nem abril nem setembro... (Risos). Porque eu acho que se eu não tiver aqui não vai acontecer, embora tenha muita gente competente que já faz o FMF, por exemplo. Não era nem necessário ficar. Mas eu sempre fico dizendo a Deus, não me dê nenhuma doença, nem gripe, nem nada. (Risos). Eu e Mano temos muita energia e essa energia a gente passa para os outros. Você poderia imaginar a Ivete Sangalo cantando aquela música “Poeira, poeira, levantou poeira” sem ser ela pulando, gritando? Então há 37 anos a gente vem fazendo a feira, sem interromper, com essa mesma alegria da primeira feira. Na época, tinha 40 anos a menos. Mas sabe que (risos) mesmo com os meus 70 anos hoje, estou me sentindo aqui com os 30 e pouco de quando comecei... (Risos).

 

Aos 70 e com força jovem para os negócios...

...Outro dia chegou uma funcionaria minha dizendo: “oh, Mana, a minha mãe está tão doente”. “É mesmo? O que é que ela tem?”, disse. “Ave Maria, dor aqui, dor ali...”. “Quantos anos tem sua mãe, minha filha?”. “59”. “Pois dia a ela que ela está é com preguiça! Diga a ela para ir trabalhar”. (Risos). Eu tenho 70 anos e estou numa disposição incrível. Todo dia eu venho trabalhar. E adoro, acho ótimo vir trabalhar. Tenho o maior prazer de vir. Enquanto as minhas amigas aposentadas estão em casa, sem fazer mais nada... Eu lá quero isso. Eu quero é ficar na moda, com o povo, com as pessoas jovens. É. Se você se acompanha dos jovens você fica mais jovem ainda. (Risos).

 

Mana, como é sua relação e seu consumo de moda?
Adoro ver a moda daqui, pode crer. Eu digo que tenho que andar no Maraponga assim (tampou as laterais do rosto com as mãos). (Risos). Compro muita roupa aqui.

 

Mas não é só atacado?

(Risos). Ah, minha filha, eu sou a única cliente do varejo. (Risos). Se eu bater o olho, gostar... “A Mana, ah, a gente libera para comprar”. (Risos). Mas como as lojas não têm provador, elas me deixam trazer para provar aqui (na administração) ou levar para casa. Levo seis, oito, dez peças e compro metade. Mas as vendedoras já sabem o meu tamanho, e eu também. Não tem o que adivinhar. “G”! (Risos).